Enfim, estou aqui sentada ao lado da janelinha do avião,
literalmente nas nuvens.
Vários flocos de algodão
permeiam o céu azul e
vou admirando essa imagem onírica
Três anos de aliah e essa é
mais uma viagem à minha terra
mãe.... o Brasil. Impossível ficar longe por
muito tempo.
Hoje tenho 2 cidadanias e cá
entre nós, me orgulho muito disso. Ser israelense era um sonho de adolescente
que não foi possível na época, mas chegou o dia certo prá que isso acontecesse.
Demorou, mas chegou de fato.
Olhando por essa janelinha, mil pensamentos
passam por minha cabeça.
Quantas coisas aconteceram
nesses últimos 3 anos... Tantas conquistas, algumas decepções, alguns sustos,
uma guerra, intifada, mas muito crescimento pessoal.
Mudar de país, tem um amplo
significado.
A partir do momento em que
você começa a pensar no assunto, tudo começa a movimentar dentro de você.
Muitos questionamentos, dúvidas,
medos...
Mas você tem que olhar prá
dentro de si e falar com você mesmo...
– E aí? Vamos? É isso mesmo que
você quer?
E naquela hora do sim, vamos....
seu coração começa a disparar, parece que vai sair pela boca. Afinal, uma grande
revolução se inicia em tua vida. É a hora do Uauu!!!!
Você está se dando a chance
de recomeçar, de mudar tudo, de praticar um modus vivendi totalmente além do
que jamais sonhou e imaginou.
As dúvidas novamente
aparecem, aliadas aos medos, a saudade que já bate de frente, momentos de
nostalgia começam a tilintar nos pensamentos, mas ao mesmo tempo vem a
expectativa de uma nova experiência, uma chance incrível de conhecer novos caminhos...
e é uma chance que você está se dando!!!!
Aí vem o exercício do
desapêgo, a ousadia, a troca de pele... E que troca!!!!
Depois disso você nunca mais
será o mesmo.
E olho novamente para a
janelinha e vejo um céu colorido, azul, alaranjado e cinza.... uma verdadeira
pintura....
Me sinto abençoada por
receber esse presente, por viver esse momento inebriante que até pode ser coisa
de artista sensível, mas fato é que desde que mudei tudo, percebo que meus
olhos abriram muito mais para certos detalhes que
antes me passavam
despercebidos.
E as divagações
continuam....
O avião cheio de gente.... outra torre de Babel e cada ser com seu mundo,
sua história, seu universo. E eu com o meu e bastante complexo.
Nesses 3 anos aprendi a
conviver com uma cultura polêmica... os famosos israelenses que geralmente são
chamados de grossos, mal educados.... esses israelenses que só sabem conversar
gritando e no começo eu sempre pensava que fosse uma briga. Mas que nada... era
só a forma deles serem. Nem sempre era realmente uma briga.
Nada como a simpatia e a
ginga do brasileiro, mas percebi que essa casca dura que eles vestem, não passa
de uma primeira aparência.
Claro que não podemos generalizar, nem todo
brasileiro é sincero e simpático e nem todo israelense é doce e bacana. Mas a
gente vai aprendendo...
Aqui você precisa saber
proteger seu espaço, defender seus direitos e impor respeito. Gritou contigo?
Grite também!!!
Quando eles veem que você
tem força, tem personalidade, se
respeita, eles te olham com outros olhos.
Muito difícil fazer certas
coisas nesse começo... até dominar a língua, que é altamente necessária, você
sofre muito.
Coisas básicas como ir ao
correio, ao banco, marcar uma consulta, requerer algum tipo de serviço por
telefone, fazer uma compra específica, enfim... coisas rotineiras podem se
tornar um enorme pesadelo.
Mas esses pesadelos fazem
parte desse crescimento e na medida em que você consegue vencer cada pequeno
obstáculo, você se sente um herói de estória em quadrinhos.
Muitas vezes você se
pergunta...
-Eu precisava passar por
tudo isso?
-Onde amarrei meu burro?
Aí vem o famoso grilo
falante em seu pensamento e te diz...
–Parabéns!!!! Você se deu uma chance, você
está vivendo intensamente, você é uma vitoriosa!!!
Aí a força redobra e a vida
continua, assim como a viagem também...
A janelinha da paisagem
bonita escureceu. Já estamos chegando em Madrid para fazer conexão .
Já é noite
e o coração bate forte, ansioso para ver
meus filhos, família, amigos.... Ansiosa por comer um pastel de feira, uma bom
churrasco, um abacaxi bem doce, passear pela cidade que eu amo que é São Paulo
e realizar alguns objetivos que decidi alcançar.
Tem gente que vai prá Israel
e acaba se acomodando com seu trabalho, seu salário modesto que paga suas
contas e uma vida mais calma e segura.
Comigo aconteceu uma espécie
de revolução interna.
Acho que sempre fui assim,
meio intensa, meio ousada, meio rebelde e com muita sede de inovar, aprender,
mergulhar em terrenos desconhecidos...
No Brasil eu fazia arte para
viver, segurar minha casa.
Em Israel faço a arte pela arte, pelo amor que tenho
por isso. Arte é meu oxigênio, é meu nirvana. Então trabalho em algo que paga
minhas despesas e em paralelo faço arte que me dá o plus financeiro e principalmente, o plus de
alma.
Também em Israel por causa da distância da família e amigos, a
gente acaba criando um outro tipo de vínculo com as pessoas.
Na tua terra mãe, você
escolhe pessoas que tem a ver com você, você opta por aquilo que prefere e tem
múltiplas escolhas. Em Israel, a coisa funciona diferente, pois precisamos de
gente por perto. O calor humano, o apoio, se faz necessário muitas vezes, pois
você está distante do seu ninho e está construindo um novo habitat, num novo lugar.
A gente acaba aprendendo a
enxergar nas pessoas, as coisas positivas e deixando de lado o que não nos serve, pois nossos valores
e necessidades modificam. E no final, muitas vezes formamos uma grande família
de gente que a princípio não tem nada a ver uns com outros, mas que passa pelos
mesmos anseios e isso nos une e nos faz mais felizes.
Aprender a conviver com as
diferenças não é tarefa fácil, mas necessária.
Em Israel descobri o quanto
necessito da liberdade para criar, colorir, amar e foi isso tudo que me fez hoje,
perceber cada pedacinho de céu, a paisagem bonita que eu me dou, que eu te dou
de presente, que me alimenta, que me energiza e estimula a seguir em frente.
Sim,
por que eu poderia simplesmente abaixar a cortininha, como alguns fizeram e
fechar os olhos e dormir. Mas eu não sou assim. E agora... sigo voando ao
encontro de pessoas que amo mais que tudo nessa vida. É isso... minha janelinha
escureceu e fecharei os olhos para abri-los em Terras Brasilis
Até a próxima!!!
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