Fazer aliah....
Muitos motivos nos levam a tomar essa decisão.
Frustração, insatisfação com a vida,
dificuldade de colocação no mercado de trabalho, incompatibilidade com a
política vigente em seu país, antissemitismo, etc.... Mas tem também aqueles
que vêm para realizar um sonho, de voltar à terra de seus ancestrais, fazer um
mergulho no conhecido desconhecido, se dar uma nova chance na vida....
Com tantas incertezas que estão pairando no
Brasil, várias pessoas têm me abordado sobre como é a vida aqui em Israel, como
é fazer aliah (imigrar para Israel).
Resolvi falar um pouco sobre isso e espero
poder acalentar o coração de alguns e tirar dúvidas de outros.
Vir para Israel não é uma tarefa fácil.
Tudo começa a partir do momento que você
resolve fazer a aliah. Quando você decide de fato mudar a sua vida, tudo dentro
de você começa a mudar. É uma sensação de despedida, misturada com alegria,
euforia e tristeza, pois claro, você ir embora significa deixar muitas coisas
legais para trás e ficar muito longe de pessoas importantes. Essa para mim foi uma das partes mais difíceis.
Na hora de se preparar para a viagem, começa o
exercício do desapego. Tantas e tantas coisas que temos que deixar, pois não
compensa pagar excesso para trazer. Eu mandei algumas coisas pelo correio, mas
tem gente que contrata transporte marítimo que custa muito caro e prá te ser
sincera... não sei se compensa, pois você nem sabe onde vai morar depois, como
serão suas condições de espaço, enfim...tem que avaliar muito bem. Conheci
gente que fez isso e teve que se desfazer das coisas depois.
Inclusive... é bom lembrar que aqui a voltagem
é 220 w. Portanto, seus aparelhos elétricos não vão funcionar por aqui. Não sei
se compensa usar transformador.
Aqui nos deparamos com uma cultura totalmente
diferente, valores, língua, costumes, realidades completamente avessas ao que
estávamos acostumados no Brasil.
No começo a gente se entusiasma, sonha, se
sente excitado pelas novidades, pela paisagem tão exótica e encantadora.
Cheguei!!!! Estou na Terra Santa!!!
Consegui!!!!
Porém.... aos poucos a realidade vai se
amoldando ao teu dia a dia e muitas vezes
teu coração vai ficando muito apertado.
De repente você se vê longe da família, dos
amigos, longe de tudo que viveu por muitos anos... você se vê num mundo diferente
do qual estava tão acostumado.
Complexo!!!! Mas uma boa dose de perseverança,
garra, muita paciência, boa vontade e, acima de tudo o coração aberto para
novas experiências, se abrir para caminhos jamais imaginados, trabalhar em
coisas que jamais pensaria fazer.... fazem com que seus sonhos não se tornem
pesadelos e seus objetivos não acabem te
decepcionando.
No começo ficamos muito dependentes para tudo
ou quase tudo.
É como se nascêssemos de novo e tivéssemos que
aprender a falar, a caminhar e a entender um novo mundo.
Coisas básicas que no Brasil fazíamos de olhos
fechados, aqui tornam-se enormes desafios e obstáculos.
Por exemplo... ir ao banco nas primeiras vezes,
ir ao médico, ir a um laboratório fazer algum exame, pedir uma informação
qualquer, etc..... Sem a língua fica tudo muito complicado.
A gente até se vira com inglês, mas nem sempre
dá certo. Difícil, difícil!!!!
Aos poucos a urgência de aprender o idioma vai
aumentando e isso começa a criar uma certa angústia.
Vir para cá, significa estar ciente de que o
seu diploma tão almejado e tão suado do Brasil, pode não valer nada ou pode demorar
a ser aceito, pois provavelmente você terá que fazer a revalidação do mesmo e
isso exige um hebraico mais técnico assim como novos conhecimentos, dependendo
da área.
Isso significa estar pronto para fazer qualquer
tipo de trabalho, como vendedor(a), balconista, faxineira(o), cuidador(a) de
idosos ou crianças, garçon, garçonete, cozinheiro(a), camareiro(a).... Trabalhos
que muita gente jamais faria no Brasil.
Aqui você vai no mesmo médico que o faxineiro
que o motorista de ônibus, que o lixeiro de rua, que o filho de um deputado,
que um dentista vai... É um povo com fundamentos sionistas onde todos têm
direito à saúde e dignidade acima de tudo.
Claro que apesar disso, existem desigualdades
sociais também e infelizmente hoje, vemos mendigos e pedintes de rua em alguns
lugares. Nada comparado ao Brasil, mas existem.
Aqui se trabalha duro. A semana tem 5 a 6 dias e meio. O domingo é dia útil, portanto
temos apenas um dia e meio para descansar e fazer coisas que durante a semana
não temos como fazer. Disso eu sinto falta... da folga do domingo.
Muitos casamentos e festas acontecem durante a
semana, pois sábado à noite aqui, não é como no Brasil, pois temos que dormir
cedo, pois no dia seguinte a semana começa novamente.
Aqui não é costume ter empregada doméstica,
pois é um serviço muito caro. Existe o serviço de faxina, mas também nem todos
têm condições de pagar. Portanto, quem tem que limpar a casa, lavar a louça, fazer faxina é você mesmo.
Com o salário mínimo de Israel as pessoas
conseguem viver apertado, mas vivem. Os aluguéis aqui são caros, principalmente
nas regiões ao redor de Tel Aviv e na própria. Por isso é muito comum as
pessoas dividirem apartamentos, para poderem melhorar suas condições de vida. Existem
muitos apartamentos que foram readaptados para locarem quartos individuais.
Aqui o transporte público funciona muito bem.
Normalmente é pontual e podemos nos organizar para pegar um ônibus ou trem em
determinado horário. Dificilmente atrasa.
Isso facilita muito a vida de quem não tem carro, pois ter carro aqui,
como em qualquer lugar do mundo é muito bom, mas também é caro.
Andar de ônibus aqui muitas vezes é uma comédia,
pois é onde nos deparamos com pessoas de tudo quanto é jeito. As vezes e muitas
vezes me sinto dentro de um manicômio a céu aberto.
É engraçado, pois tem gente que de repente do
nada se mete em tua vida. Te perguntam e fazem comentários inesperados. Além disso,
muitos tem a mania de brigar por
qualquer coisa. Acaba sendo cômico conviver com isso. Claro que tem aqueles
dias que a gente tem vontade de fazer de conta que ninguém existe. Tipo... estou
sozinho nesse lugar ... não escuto e nem falo com ninguém ..... rsrsrs ... mas
isso acontece em qualquer lugar do mundo, né?
O israelense tem a sua maneira dura de ser, mas
sabendo como levar, você consegue obter um sorriso e a essência amável dele. Nós
brasileiros estranhamos muito, pois a nossa simpatia, a nossa alegria, a nossa
ginga, são coisas com as quais eles não estão muito acostumados e pode
acontecer de nos depararmos com situações meio constrangedoras.
Muitas vezes você escuta pessoas discutirem.
Parece que estão brigando, mas na verdade essa é a forma deles conversarem. As
vezes parece que vai sair morte, mas acaba numa risada, num abraço ou num
simples lehitraot (tipo... até breve).
Aqui você pode xingar, mas sem encostar a mão,
pois senão vai parar na polícia.
O imigrante que acaba de chegar, tem muito que
descobrir em termos de leis, direitos e obrigações. Cuidado com o que as
pessoas falam, pois nem todos te dão informações corretas. Melhor ir direto aos
órgãos responsáveis e de preferência com alguém que fale o hebraico, para que
tudo fique claro.
O que percebi e achei incrível é que mesmo em
tempos de guerra, mesmo trabalhando muito, a população tem vida social. Se você passar
pelas ruas movimentadas de Tel Aviv, vai ver que lá a vida não para. Os bares e
restaurantes sempre lotados de gente, independentemente de qualquer coisa.
Obviamente esse não é programa
frequente para o imigrante que está começando a vida aqui, pois isso também sai
caro. Claro que nessa época da guerra que passamos há pouco, também teve muita
gente que ficou com medo de sair de casa, muitos com síndrome do pânico,
síndrome de ansiedade, etc....
Esse também é um fator pelo qual quem pensa em
vir para cá, tem que estar ciente. Nem todos administram isso com facilidade.
Ouvir aquela sirene e saber que aquilo é de
verdade, que logo depois dela vem uma explosão, é uma coisa bem delicada de
digerir, principalmente se a explosão é bem perto de você. O ir e vir do
abrigo, também é uma experiência não muito agradável, apesar de bastante
emocionante. Graças a Deus, não é sempre que isso acontece, a menos que o país
esteja em guerra.
Aqui muitos trabalhos são pagos por hora
trabalhada e outros são fechados por uma média mensal, com um salário x.
Muita gente chega aqui na certeza de que irá
conseguir abrir seu próprio negócio em seguida ou então irá conseguir seguir na
mesma área que trabalhava no Brasil.
Conselho... não venha com essa ilusão. Pode ser
até que consiga, mas nem todos alcançam esse sonho. Por isso digo e repito que
tem que vir pronto para enfrentar e abraçar outro tipo de serviço.
Antes de mais nada, é necessário se ambientar e
aprender os costumes do povo e claro, dominar a língua, que não é muito fácil
para quem nunca estudou em escola judaica.
Tem gente que mora aqui há anos e não conseguiu
dominar o hebraico.
Para
abrir um negócio, existem algumas facilidades, mas saiba que grande parte das
pequenas empresas abertas em Israel fecharam em torno de um ano. Isso se deve à
falta de planejamento e preparo para enfrentar um mercado completamente divergente
daquele a que estamos acostumados.
O israelense gosta de coisas diferentes, mas ao
mesmo tempo é muito fechado para certas novidades. Existe uma certa barreira
para aceitarem produtos com os quais não estão habituados. Portanto....
pesquise muito antes de investir ou se endividar. Eu penso que o melhor seja
trabalhar por um tempo em algum ou alguns lugares antes, para conhecer melhor
os costumes, as relações interpessoais, viver os hábitos do dia a dia, etc....e aí sim, depois pensar em abrir ou não o seu próprio negócio.
Uma coisa que incomoda muita gente aqui,
principalmente quem vem de fora é o fato de no shabat tudo parar. Se você não
tem carro ou não tem amigo que tem carro, acaba ficando em casa ou pelas
redondezas. Ou então tem que se programar para viajar antes do shabat começar,
pois o transporte público para e os taxis são caros nesses dois dias. Existem
os taxis coletivos, mas geralmente vem lotados e nem sempre se consegue um prá
te levar onde precisa.
O que é muito usado aqui são as bicicletas
comuns e elétricas. Muuuita gente usa elas. São super práticas,
mas um pouco perigosas, pois nem todos respeitam os pedestres e nem todos os
motoristas de carro respeitam as bykes. O único inconveniente delas é que só
podem rodar dentro das cidades. Nada de pegar estrada com elas. Mas com certeza
são ótimas!!!
Outro veículo muito utilizado aqui é um mini
carro elétrico que serve para até duas pessoas que muita gente de idade
utiliza. Ele é muito engraçado e simpático. Vemos muitos senhores de idade
conduzindo estes mini carros pelas ruas das cidades.
O que acho incrível é que eles andam no meio do
trânsito e todos respeitam.
Outra coisa que é muito comum ... as pessoas
jogarem seus pertences, móveis , etc... nas ruas. Muita gente monta suas casas
através de refugos encontrados no lixo. E não pense que é só gente pobre que
faz isso. Que nada... todos fazem isso sem que denigra a imagem de ninguém.
É muito comum catadores de lixo, pegarem esses
objetos, móveis e etc... para reaproveitarem e revenderem reformados. Vejo muita gente fuçando os lixos, onde várias pessoas depositam sacolas ou
malas cheias de roupas usadas.
Teve uma vez que estava numa praça e tinha um
computador e uma impressora usados, ao lado de um poste.
De repente, apareceram três carros da polícia
que fecharam a rua e proibiram as pessoas de se aproximarem. Suspeita de objeto
perigoso. Foram averiguar se a impressora e o computador usados não continham
algum tipo de explosivo. Não tinha nada, graças a Deus.
Médico.... aqui todos tem direito a seguro
saúde. Isso eu considero o máximo, para quem vem de anos pagando caro convênio
médico. A gente paga também, mas é bem mais barato e funciona. Você, novo
imigrante não entra em Israel sem ter seguro de saúde.
Só que aqui é diferente... existe o médico de
família que será sempre o primeiro a te consultar e depois te encaminhar para o
especialista que você precisa. Isso incomoda um pouco, pois para quase tudo tem
que se reportar ao médico de família. Mas acaba dando tudo certo. Ele é como se
fosse um clínico geral do Brasil.
Existem quartos particulares em hospitais, mas
a maioria da população fica em enfermaria sem que isso menospreze ninguém. Aqui
isso é de praxe. O atendimento nos hospitais também a gente estranha, pois é
diferente do Brasil. Se você tem dor, tem que pedir o remédio, senão eles não
dão. Aqui talvez não se tenha a simpatia do Brasil, mas tem o bom funcionamento
que nos dá uma certa segurança. Sempre tem vaga, tem material médico e nas
situações de urgência você é imediatamente atendido.
Para quem é jovem, eu penso que seja uma ótima
oportunidade vir para cá e começar a vida. Para as crianças é tudo de bom. Mas
não esqueça... seus filhos terão que fazer exército. Outra barreira a ser
enfrentada.
Para quem tem mais idade, eu acho que deve
avaliar tudo muito bem e se tiver uma renda mensal ajuda muito, pelo menos para
começar. Com mais idade fica mais complicado de pegar certos trabalhos, pois o
físico já não consegue acompanhar. Portanto, é necessário pensar em tudo muito
bem. A aposentadoria aqui é baixa. Não dá para viver somente dela. A menos que
se faça um plano particular, mas esse é muito caro para o imigrante.
Me perguntaram se aqui terá conforto. O que é
conforto para mim, pode não ser para você. Se está pensando que vai chegar aqui
e vai morar num lugar lindo, vai conseguir tudo que quer rapidinho, esqueça.
Melhor ficar no Brasil. As coisas aqui,
principalmente nos primeiros anos da chegada, acontecem de forma muito lenta,
mas depois com o tempo tudo vai entrando nos eixos e fica mais fácil. Mas tem
que perseverar, ser resiliente.... e muito!!!!
Muita gente desistiu e voltou no primeiro ano.
Muita gente desistiu e voltou no primeiro ano.
Dizem que quem consegue ficar mais de 4 ou
cinco anos, já não tem tanta vontade de voltar. Eu ainda não cheguei nesse
estágio. Completarei meus dois anos agora.
Outra coisa que considero muito valiosa é ter
gente conhecida aqui. Antes de vir, converse com pessoas que
moram aqui, fale com parentes, pesquise na internet sobre tudo que possa te
interessar. Venha mais informado, mais preparado. Avalie muito tudo o que te
falam. Tire suas próprias conclusões ou pelo menos fale com quem você sinta mais
segurança.
Aqui é a Terra do leite e do mel, mas também do
limão amargo e do fel.
Tem suas
características maravilhosas? Claro que tem, mas tem também muitos espinhos
para serem desviados.
Falam por exemplo de trabalhos em hotéis. Sim,
tem muito trabalho em hotéis, mas nem sempre são fáceis. Conheço gente que foi
trabalhar em hotel e até hoje tem problemas na coluna, pois foi trabalhar de
camareira, assim como tem outras pessoas que gostam de executar este trabalho. Hotel também tem uns horários loucos de
trabalho, pois vivem em função das épocas de grande turismo. As vezes te dão
muita folga e muitas vezes você não tem tempo de respirar. Tem gente que ama e
tem gente que odeia. As vezes você mora num lugar maravilhoso, mas em seus dias
de folga está tão cansado que nem tem condições de aproveitar o local.
Enfim, nesse aspecto....tudo é muito relativo. Depende
da tua idade, da tua cabeça, da tua disponibilidade.
Quase 100% das escolas de Israel são públicas e
pasme, são de ótima qualidade. Todos independente de condição social ou
financeira frequentam as mesmas escolas e recebem a mesma educação. Em Israel,
educação é obrigatória para crianças a partir de 5 anos. Antes dessa idade,
existem os jardins de infância (ganim) que são bem caros, com exceção de alguns
que fazem parte de programas sociais.
Este é um país maravilhoso, mas não é o mesmo
de 20 anos atrás. Muita coisa mudou. Com a chegada de muitos novos imigrantes o
perfil do país mudou muito em muitos aspectos. Mas mesmo assim, ainda tem
certas características inerentes a um país judeu. Essa parte eu acho o
máximo!!! Você sente as tradições à flor da pele. Todos comemoram as festas
judaicas de uma forma mais intensa. Isso é muito bacana e comovente.
A vida aqui não é fácil, não é um mar de rosas.
Aqui tem que lutar muito também. Viver, recomeçar um caminho aqui não é para
qualquer um. Mas eu sempre penso que vale a pena tentar, se é isso que você tem
em seu coração.
Mas não venha por que o PT entrou no governo.
Venha por que aqui é sua casa também. Venha por que aqui é a terra dos judeus e
dos simpatizantes. Venha pelo amor a Israel. Assim, com certeza a chance de dar certo será
muito maior.
E, se puder vir antes para conhecer, antes de
resolver fazer a aliah, melhor ainda.
Eu fiz isso e acho que foi uma ótima opção. Completo
amanhã 2 anos de aliah. Posso dizer hoje com todas as letras que não me
arrependo de nada. Prefiro me arrepender do que fiz, do que aquilo que não fiz.
Me chamaram de louca, por vir para cá nessa idade. Nem todos me apoiaram, mas
hoje vejo que fiz a coisa certa. Se é para sempre eu não sei. Mas até agora,
digo e repito...VALEU A PENA!!!!!
Espero ter ajudado um pouco.
Desejo boa sorte a quem vem e serenidade a quem
pensa em vir.
Que Deus ilumine seus caminhos sempre.
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